Demorámos tanto tempo a escrever, a expressar por palavras o que não tem explicação…
Demorámos tanto tempo a acreditar…
Demorámos tanto tempo a digerir o que nos disseram mas, mesmo com os olhos vermelhos e marejados de lágrimas que teimam em cair, sabemos que nunca te podemos esquecer!
A Amizade é indescritível, só possível entre irmãos.
Aprendemos a ser: os maninhos!
Aprendemos a respeitar cada um que atravessava o caminho para o desconhecido porque já lá tínhamos estado e, também graças a ti, que foste um dos grandes fundadores deste NOSSO grupo, saímos do “buraco” onde nos tinham posto quando ouvimos “o que tem é esclerose múltipla”.
Sim, porque se não fosse aquela conversa com o Xana - aquela conversa no MS Gateway, aquela onde comentaram que as pessoas estavam a deixar os contactos e precisavam de as juntar – se não fosse essa conversa, não haveria Gang da EM!
E depois juntaste todos os emails no MSN Messenger, uma novidade, naquela altura, em Novembro de 2004 (há que tempos!).
Estavas sempre à procura da nova versão porque era essa que dava mais qualidade e simplicidade às nossas conversas. E às vezes eras um bocadinho chatinho, mas depois a “coisa” funcionava e lá nos armávamos em miúdos com os novos ícones, a mandar bolas de água aos ecrãs uns dos outros, por exemplo.
Tinhas sempre pessoas novas para “juntar”, como dizias, mas esses só eram novos durante a apresentação da praxe porque, depois… ah, depois eram como TODOS e, esses, estavam lá por UM que fosse!
Mas antes de os juntares na confusão da janela do MSN onde todos se reuniam, antes de os “lançares às feras” em conversas com 10 a 20 pessoas aos mesmo tempo, conversavas com eles primeiro.
Só assim se seguiam as palavras mágicas:
“vou juntar-te”
“podes falar”
(…)Eram estas as palavras mais ouvidas num discurso muito curto, próprio de um observador e moderador de conversas.
O Respeito e interesse que tiveste por cada uma das pessoas que quem falaste, faz parte do legado que nos deixaste.
Quantas mais pessoas escrevessem numa janela de conversação, melhor!
Adoravas confusão, não era, maninho? Adoravas aquelas conversas, cada um a dizer “olá, eu sou a/o … e tenho EM há …”. A dada altura já parecíamos os Alcoólicos Anónimos, mas ninguém se interessava!
O que interessava mesmo era chegar a casa depois de um dia intenso de trabalho, pousar a mala, as chaves ou a carteira e ligar o computador para falar com aqueles amigos que depois passaram muito depressa a ser OS Amigos! Sim, porque eram eles que se entendiam, que sabiam exatamente o mesmo. Por isso nos entendíamos, por isso nos respeitávamos, por isso conversávamos… todas as noites por vezes até quase ao nascer do sol.
As conversas… Oh meu Deus, as conversas…
As nossas conversas sobre EM…
Mas qual EM? Quem é essa?
Essa “senhora” foi só o pretexto porque os verdadeiros Amigos logo encontram novos temas com que se entreter…
Lembras-te das festas que fazíamos todas as noites?
E das bebedeiras virtuais, lembras-te? Era um regalo olhar para aquele ecrã de computador, qual bajolo antiguíssimo próprio, nesta altura, para ser transformado em cama para gato, por exemplo…
Era só ver jarrinhos de cerveja a tilintar no ecrã…
Era só ver jarrinhos de cerveja a tilintar no ecrã…
E os números para o Totoloto, que nunca nos saiu?
Por entre risos e gargalhadas de fazer doer a barriga, havia os momentos mais tristes, aqueles que faziam com que um de nós tivesse de tomar a “megadose”.
Megadose… Que palavra tão estranha… Pois, tinhas de ser tu a inventá-la, não é? Piadinha…
E tu, Ruca, como estás? – perguntávamos nós
Durante quase 10 anos, a resposta foi sempre a mesma:
“Bom”
“Tudo bem”
“Tudo passa”
Nem deitado nas camas dos hospitais (nos “hotéis”, como lhes chamavas) nem agora, quando estavas quentinho na cama nova do teu quarto, tu te queixavas. A resposta foi sempre a mesma e a expressão no rosto também: sorrias e dizias “está tudo bem”.
Não estava “tudo bem” no Dia Mundial da EM, em 2010, mas arranjaste uma equipa para trabalhar contigo, envolveste pais, irmã, cunhado, filho, amigos, e fizeste o impensável: ergueste o Move-te pela Esclerose Múltipla em Leiria!
E voltaste a fazê-lo no ano seguinte!!
Deixaste-nos um legado impossível de retirar do nosso ser, de cada um de nós!
Deixaste-nos uma lição de Vida, Ruca!
Somos o carácter que tínhamos, acompanhado por uma missão presente e que tu tanto querias e te orgulhavas; a sensibilização para a doença.
Somos o que nos ensinaste sem saber: somos Um!
Somos, por tudo isto, o que sempre disseste: Um por Todos e Todos por Um!!