Uma no coração, outra na cabeça
O único caminho possível
“A Karla descobriu que sofre de esclerose múltipla e perguntou-se se não poderia contribuir com um pequeno texto para o blogue do Gang”
Por:Pac, Músico (umanocoracaooutranacabeca@gmail.com)
Ontem falei com uma amiga dos tempos de criança e adolescente de quem já não sabia nada há uns bons anos. A saudável jovialidade presente na sua voz desde as primeiras palavras que trocámos fez com que o insuspeito e delicado propósito da nossa conversa se apresentasse ainda mais estranho do que normalmente seria à medida que se tornou claro: em Dezembro passado, a Karla descobriu que sofre de esclerose múltipla e agora, passada a fase da raiva e choro, perguntou-me se não poderia contribuir com um pequeno texto para o blogue do Gang da Esclerose Múltipla (dêem um pulo a http://gangem.blogspot.com, se faz favor).
Apesar de nunca termos tido qualquer tipo de ligação afectiva significativa, já que me dava mais com o seu irmão, ela sempre se me afigurou como uma pessoa de quem é fácil gostar. Crescemos na mesma rua, andámos nas mesmas escolas, temos praticamente a mesma idade, somos ambos "caçulas", manos de irmãos mais velhos que desenrolaram papéis muito fortes no nosso crescimento. Ela tem duas filhas e eu tenho uma. Ela é uma loura de olhos azuis toda giraça e eu sou um mulato de olhos verdes mais ou menos giro.
A esclerose aconteceu à Karla (ou Kaly), como podia ter acontecido ao Carlos, ou (Carlitos). Claro que eu, como a maioria das pessoas, mantenho a ilusão de que sou intocável, como que protegido por um anjo-da-guarda, e que este tipo de situações acontecem sempre aos outros. E como num par de situações extremas até me safei airosamente do pior, ainda alimento mais essa noção, como uma superstição tola que sabemos não passar disso mesmo mas até funciona para a nossa cabeça.
No final do dia, concluo que vale sempre a pena acreditar num qualquer anjo, não porque este impedirá que as coisas nos aconteçam mas sim porque temos outra força para lidar com as adversidades quando estas nos aparecem do nada. Tenho vindo a aprender que sou muito mais forte e capaz do que aquilo que sempre julguei ser. Ultrapassei alguns problemas que julgava não terem solução e adaptei-me o melhor que pude a outras situações, quando não havia outra hipótese. E não pode haver outro caminho que não a felicidade, como a Karla tão bem mo demonstrou ontem. Bom domingo, minha gente.
1 comentário:
O Gang está sempre em grande. Patrícia
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